Coluna Italo Wyatt | Game of Thrones e o radicalismo no Brasil
- Redação

- 9 de jan. de 2023
- 2 min de leitura

Em Game of Thrones, um dos acontecimentos mais importantes foi a destruição do Grande Septo de Baelor. O radicalismo religioso ganhou tanta proporção ao ponto do Alto Pardal condenar várias personalidades do império, inclusive a rainha Cersei Lannister.
Cersei consegue destruir o Grande Septo logo após o julgamento de Sor Loras Tyrell. Na oportunidade, vários cidadãos presentes no septo morreram, o próprio Rei Tommen Baratheon suicidou-se ao saber do falecimento de sua amada, o Alto Pardal também perde a vida, as casas Tyrell e Lannister finalizam a aliança e Cersei é proclamada rainha dos Sete Reinos.
Brasília
O que aconteceu ontem em Brasília possui profundo paralelo com a história narrada. Utilizando os argumentos de combate à corrupção, instituição de uma ideologia patriótica de extrema-direita e fim de determinadas manifestações sociais, o bolsonarismo radical tornou-se incontrolável.
É claro que a maioria dos 58 milhões de brasileiros que votaram em Bolsonaro não concordam com os fatos das últimas horas.
Todavia, inegavelmente o próprio ex-presidente foi peça motriz na formação de uma consciência radical que bombardeou a Capital Federal.
Ninguém incitou mais o descumprimento às decisões judiciais, espalhou mentiras e colocou em xeque a segurança das urnas do que o próprio Jair Bolsonaro.
Agora, os mais extremistas não acreditam na ciência, não toleram a diversidade, não compreendem que os poderes da República se controlam mutuamente, que qualquer líder político está sujeito à crítica e ao império das leis, que nenhuma liberdade de expressão é salvo-conduto para a prática de crimes, que o resultado das eleições é incontestável pelas Forças Armadas e que ninguém possui o direito de depredar o patrimônio público histórico-cultural do Brasil.
Tal qual o Grande Pardal de Games of Thrones, Bolsonaro não consegue (e nem deseja) arrefecer a alcateia que teve a coragem de rasgar com facas uma tela de Di Cavalcanti e destruir os palácios da Praça dos Três Poderes. Já são ovelhas ingovernáveis à procura de qualquer um que institua o culto à barbárie, estrangule o direito ao pensamento divergente e ouse contestar os conceitos absolutistas que deram para Deus, pátria, liberdade e família.
Vila Velha
Além de Bolsonaro, todas as autoridades públicas em Vila Velha que apoiam as atitudes antidemocráticas do ex-presidente e não agem diretamente para controlar os extremismos que ocorrem nos acampamentos da Prainha representados pela destruição do patrimônio público e perturbação da ordem são coniventes com os terroristas. Vereadores, deputados estaduais e federais que persistem na omissão em defender a própria democracia que os elegeram, incentivam o caos.
Diante da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou nesta manhã a dissolução dos acampamentos em frente aos quartéis de todo o país em 24 horas, o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) requisitou imediatamente a retirada de faixas, barracas e banheiros químicos da Prainha. Resta agora o cumprimento tardio de um dever institucional que só se concretizou após dolosa inércia.

Italo Samuel Wyatt é advogado, especialista em Direito Criminal e Segurança Pública, autor de obras literárias, membro da Academia de Letras de Vila Velha e colunista.
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Edição Douglas Dantas; Foto Marcelo Camargo / Agência Brasil-EBC






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