Coluna Italo Wyatt | Os sons da Vila
- Redação

- 11 de nov. de 2022
- 2 min de leitura

Em 1949, o imigrante Henrique Meyerfreund criou um bombom redondo que, graças à sua cunhada Érika, ganhou um recheio de castanha envolto por uma casca crocante. Nessa mesma época, Úrsula, a irmã de Érika, passava várias noites inclinada na janela de sua casa ouvindo serenatas entoadas por um jovem bandolinista chamado Hugo Musso. Dessa incrível paixão consumada na Igreja do Rosário, surgiu o tradicional chocolate “Serenata de Amor”, da fábrica Garoto.
Vila Velha sempre foi marcada pela sonoridade. Quando as buzinas e os maquinários da construção civil chegaram nos anos 1950, as falanges do Congo já entoavam no Balneário do Jucu, as canções de uma ancestralidade plural. Muito próxima da efervescência cultural do Rio de Janeiro, recepcionava grandes shows de bossanovistas e expoentes do samba.
Atualmente, as casas noturnas e quintais da cidade entoam todos os gêneros musicais. Os festivais de cerveja artesanal e os blocos de carnaval no verão marcam uma geração que sofreu com a grave pandemia e agora não suporta ficar tanto tempo presa em casa e nos escritórios.
Ontem, às duas da tarde, a poetisa e cantora Andra Valladares entrou no estúdio para gravar o seu projeto “Novos Parceiros”. Andra possui um timbre muito parecido ao de Gal Costa, cantora que partiu no último dia 9, mas deixou um legado eterno. “Novos Parceiros” une música e poesia, com profunda sensibilidade.
O Coral Vozes da Vila precisa retornar aos espaços públicos. O cancioneiro popular deve ser divulgado para todos os canela-verdes.
O Nook Beach Club, na Prainha, pegou fogo, na tarde de segunda-feira (7). A empresa sustenta que foi um incêndio criminoso. De toda forma, quando um espaço de música acaba, a cidade toda morre um pouco mais. E morrendo um pouco a sua musicalidade, a vida torna-se mais árdua, mais difícil e cansativa.
Agora, o que se ouve no coração da Ilha de Vasco Coutinho é o barulho frenético dos descontentes com o resultado das eleições. Nos acampamentos, gritos e marchas militares mesclam-se a todo instante.
Vila Velha é como uma nota de uma perfeita harmonia. A nossa pátria parece caminhar nos trilhos de uma partitura. Tira-se a nota, perde-se o conjunto.
Saudade do Brasil é uma grande música.

Italo Samuel Wyatt é advogado, especialista em Direito Criminal e Segurança Pública, autor de obras literárias, membro da Academia de Letras de Vila Velha e colunista.
Confira todas as colunas Italo Samuel Wyatt em:






Comentários