História oculta: A verdadeira origem de VV além de Vasco Coutinho
- Redação
- 18 de mai.
- 3 min de leitura

No dia 23 de maio, comemoramos o Dia da Colonização do Solo Espírito-Santense. Uma data que, muitas vezes, é marcada pela ênfase no papel do colonizador, especialmente na figura de Vasco Coutinho, e que tende a apagar a importância dos povos indígenas que habitavam estas terras muito antes da chegada dos europeus. A narrativa tradicional costuma contar a história como se, antes de Coutinho, não houvesse nada de relevante neste território, reforçando uma visão eurocêntrica e simplificada dos fatos.
Não podemos negar a importância da chegada de Vasco Coutinho e do processo de colonização para a formação do que hoje é o Espírito Santo. No entanto, é fundamental evitar uma narrativa única e simplificada. Uma abordagem crítica dos fatos deve considerar as diversas visões dos diferentes grupos que se confrontaram naquele momento, colocando os povos indígenas no centro do palco, com o reconhecimento de sua presença, cultura e resistência.
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Contudo, a professora doutora Aline de Alcantara Valentini (Aline Jaxuca), referência em História Indígena, destaca que a ocupação do território capixaba remonta a cerca de 11 mil anos atrás. Naquele período, as primeiras levas migratórias saíram do que hoje é o Cerrado brasileiro, motivadas pela queda brusca de animais de grande porte utilizados na caça. Posteriormente, novas ondas migratórias chegaram ao litoral do Espírito Santo, trazendo diferentes povos e culturas.
Entre esses povos, destacam-se a tradição dos sambaquis da fase Macaé e a tradição Itaipu com a fase Potiri, que também faz parte da história indígena do estado. Mais tarde, chegaram povos do tronco macro-jê, erroneamente conhecidos como Botocudos pela população atual. É importante ressaltar que esse termo pejorativo apaga a diversidade de povos sob essa denominação, que na verdade incluía grupos como os Aymoré, Goitacá, Puri, entre outros. Esses povos utilizavam um adorno chamado botoque em seus lábios, mas suas culturas eram distintas e ricas.
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Cerca de mil anos atrás, chegaram ao território os povos do tronco Tupi, que passaram a disputar espaço com os grupos macro-jê. Quando Vasco Coutinho chegou ao que hoje é Vila Velha, deparou-se com os Goitacá, do tronco macro-jê. É comum ouvir que esses povos indígenas atacaram os colonizadores, mas, na verdade, trata-se de uma interpretação equivocada. Mais do que ataques, o que ocorreu foi uma defesa dos povos indígenas, que conheciam bem o território, suas rotas de comunicação e as incursões anteriores feitas pelos portugueses. Sabiam que a chegada europeia trazia morte e destruição, e estavam protegendo suas terras, suas famílias — homens, mulheres, crianças e idosos — com vivências antigas nestas terras.
Um pouco mais ao sul de onde é Vila Velha hoje, viviam os Tupinaé, do tronco Tupi, que habitavam às margens do rio Jucu. Esses povos, ora de forma amistosa, ora em disputa territorial com os Goitacá, também fazem parte dessa história complexa e multifacetada.
Vale destacar que a grafia dos nomes dos povos indígenas no singular e com inicial maiúscula segue a regra da Convenção de Antropologia de 1953, que orienta a escrita dessa forma para respeitar a identidade e a dignidade dessas comunidades originárias.
Este dia é uma oportunidade para refletirmos sobre a história de forma mais ampla, plural e respeitosa, reconhecendo que o passado não se resume à chegada dos colonizadores, mas também às histórias, resistências e contribuições dos povos indígenas que sempre estiveram aqui.
Por Aline Jaxuca
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