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Surto de infecção no ES: especialistas analisam causas, riscos e medidas de contenção


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O surto de infecção hospitalar registrado no Hospital Santa Rita, em Vitória, mobilizou autoridades sanitárias e especialistas em saúde pública. Até o momento, 26 profissionais da unidade foram contaminados, sendo que 19 precisaram de internação e dois permanecem em estado grave. Os sintomas apresentados são compatíveis com infecções respiratórias, e a principal suspeita é de legionelose — uma pneumonia causada pela bactéria _Legionella pneumophila_, geralmente associada à contaminação ambiental.


Para entender melhor a situação, entrevistamos dois profissionais que estiveram à frente das medidas de contenção e prevenção do Coronavírus: a professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), epidemiologista e enfermeira Ethel Maciel e Nésio Fernandes, médico sanitarista, ex-secretário de saúdedo ES.


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Ethel avalia que o surto está sob controle, embora ainda exija atenção. “Já descartamos a possibilidade de doença viral, que sempre preocupa por sua rápida transmissão. O mais provável é que houve contaminação ambiental, atingindo pessoas que estavam no mesmo local e foram expostas ao mesmo agente etiológico”, explicou.


Segundo Ethel, amostras de escarro, urina e líquido pulmonar estão sendo analisadas, mas o crescimento de algumas bactérias pode ser lento, o que justifica a ausência de confirmação laboratorial até o momento.


A epidemiologista Ethel Maciel destacou que todos os ambientes de saúde são naturalmente de risco, por reunirem pessoas com diferentes condições clínicas e potenciais agentes infecciosos. Por isso, é essencial que os profissionais mantenham adesão contínua e rigorosa às medidas de biossegurança. Falhas na limpeza, desinfecção ou no cumprimento de protocolos podem colocar vidas em risco, como evidenciado pelo surto ocorrido no Hospital Santa Rita.



Ela ressaltou positivamente a rapidez com que houve a contenção da infecção e a mobilização das autoridades sanitárias. Segundo Ethel, mesmo sem todas as informações disponíveis no início, a notificação precoce é uma prática fundamental da vigilância em saúde. “Identificar que algo está fora do padrão e comunicar imediatamente permite uma resposta mais eficaz e oportuna”, afirmou.


Desde a última quarta-feira (22), não foram registrados novos casos, o que indica que as medidas de contenção estão surtindo efeito. “Hoje temos um ambiente mais seguro, com protocolos de desinfecção em curso. É fundamental que os pacientes em tratamento continuem suas consultas e procedimentos, especialmente os que não podem ser interrompidos”, reforçou.


Nésio analisa que o surto é um evento grave que exige resposta técnica e transparente.


“Pessoas não devem adoecer, muito menos morrer, por doenças cuja transmissão pode ser interrompida em ambientes controlados. A notificação imediata é obrigatória, conforme a Portaria SESA nº 115-R, e deve ocorrer em até 24 horas após a identificação do surto”, afirmou.

Ethel lembra da importância da comunicação transparente com a população e o cumprimento rigoroso dos protocolos hospitalares.


“O surto nos ensina que flexibilizações colocam vidas em risco. Os protocolos existem para serem cumpridos, e sua função é justamente prevenir novas infecções”, concluiu.





Fernandes alertou para o risco de disseminação do agente infeccioso para outras unidades hospitalares, especialmente porque muitos profissionais de saúde atuam em mais de um local. “Enquanto não soubermos o mecanismo de transmissão, é essencial instalar um grupo de vigilância de campo para rastrear todos os contatos dos casos suspeitos e confirmados. A cadeia de transmissão precisa ser interrompida rapidamente”, disse.


Sobre a suspeita de legionelose, Fernandes considera plausível, mas ressalta que outras doenças devem ser consideradas no diagnóstico. “O Estado tem expertise para lidar com situações complexas, como já demonstrou em surtos anteriores e na pandemia de Covid-19”, pontuou.

"Diversas doenças circulam simultaneamente na sociedade. O principal alerta é para contatos com casos conhecidos ou suspeitos; com eles devemos ter maior atenção, assim como na vigilância de casos graves com internação recente em hospitais públicos e privados, nos quais a suspeita deve ser levantada diante da possibilidade de algum nexo não observado num primeiro momento da investigação" comenta Nésio.




Fernandes defendeu a criação de boletins epidemiológicos periódicos e uma comunicação técnica e transparente com a sociedade. “Cada hora conta. A agilidade na notificação, investigação e comunicação é ferramenta que salva vidas. Este surto deve servir como catalisador para uma revisão profunda dos processos de vigilância e segurança em toda a rede de saúde do Estado”, concluiu.


Ele também criticou a flexibilização dos protocolos de biossegurança em algumas unidades.


"A higiene permanente das mãos e as boas práticas no sistema de saúde — como o uso de máscaras por pessoas sintomáticas de doenças respiratórias, prática já recomendada, merecem ser reforçadas neste momento. Além disso, evitar compartilhar objetos como copos, não encostar a boca diretamente em bebedouros, lavar as mãos após ir ao banheiro e adotar outras práticas de autocuidado também devem ser reforçadas" destaca.

E ainda complementa: “Eventos adversos como este não ocorrem por falta de protocolos, mas por falhas no cumprimento. É preciso fortalecer as Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) e os Núcleos de Segurança do Paciente (NSP), garantindo autoridade e capacidade de intervenção”, destacou.


"No fim, estamos falando da segurança da sociedade, dos pacientes, dos trabalhadores e da sustentabilidade das próprias instituições de saúde. Este surto deve servir como catalisador para uma revisão profunda e honesta de nossos processos de vigilância e segurança em toda a rede de saúde do Estado, seja pública ou privada" avalia Nésio.


Avaliação semelhante de Ethel. O episódio, segundo a especialista, serve como alerta para que todas as instituições — públicas ou privadas — adotem as melhores práticas de vigilância e comuniquem rapidamente qualquer suspeita às autoridades competentes. Essa agilidade é crucial para prevenir surtos e salvar vidas.

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