Assembleia comemora Dia Estadual da Consciência Humana: uma celebração que reforça o preconceito velado
- Redação
- 17 de dez. de 2024
- 2 min de leitura

Na última terça-feira (10), a Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) realizou uma sessão especial para celebrar o Dia Estadual da Consciência Humana, instituído pela Lei Estadual 12.106/2000, de autoria do deputado Coronel Weliton (PRD).
A data foi apresentada como uma reflexão sobre os 76 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. No entanto, ao invés de promover um debate significativo sobre as questões que realmente afligem a sociedade, a proposta revela-se um desvio retórico, que enfraquece a discussão urgente sobre o racismo e outras formas de preconceito estruturais enraizados na sociedade brasileira.
Durante a sessão, Coronel Weliton declarou que “o ser humano ainda não atingiu o nível de consciência suficiente para viver em harmonia com os demais”. Essa fala, genérica e evasiva, se distancia do problema central: não se trata apenas de uma questão de “consciência humana”, mas de um combate efetivo contra o racismo, a discriminação de gênero, a LGBTfobia e tantas outras desigualdades históricas. Reduzir o debate a abstrações dilui a luta concreta contra o preconceito e perpetua a negação do racismo estrutural, tanto no Espírito Santo quanto no Brasil.
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Uma celebração que esconde as verdadeiras pautas
A data proposta para celebrar o Dia Estadual da Consciência Humana, 10 de dezembro, coincide com o Dia Internacional dos Direitos Humanos — uma data histórica que, na verdade, deveria ter sido o verdadeiro foco da celebração.
Ao adotar uma linguagem genérica e descontextualizada, eventos como esse reforçam o preconceito velado ao ignorar as realidades vividas por aqueles que enfrentam as desigualdades no cotidiano. Não há como falar de “consciência humana” sem confrontar as hierarquias raciais, sociais e culturais que estruturam a sociedade. Não é possível discutir direitos humanos sem abordar as inúmeras violações perpetradas por agentes do Estado, como as ações violentas da polícia — um tema que deveria ser discutido com maior profundidade no parlamento.
A ausência de representatividade de movimentos sociais e ativistas da luta antirracista na pauta deixou claro que a celebração estava mais preocupada em manter as aparências do que em gerar mudanças reais.
A necessidade de combater o racismo, e não abstrações
Enquanto o plenário discursava sobre uma suposta “harmonia entre os seres humanos”, a realidade gritava do lado de fora. O Espírito Santo, como o restante do país, ainda vive sob o peso de uma sociedade racista e desigual, tentando se recompor de uma violenta ditadura militar e lidando com tentativas de golpes contra a democracia. Celebrar uma data vaga como o Dia da Consciência Humana, sem mencionar as questões cruciais de racismo e desigualdade, é ignorar os avanços da luta antirracista e desconsiderar as necessidades reais da população negra e de outros grupos marginalizados.
A proposta, mesmo sob o pretexto de promover reflexão, acaba por reforçar um discurso que invisibiliza os problemas mais urgentes, perpetuando o silenciamento dos que mais precisam ser ouvidos.
Participantes
Dentre os participantes do evento, destacou-se a escritora baiana Maribel Oliveira Barreto, que proferiu uma palestra sobre “Consciência Humana”. A programação contou também com a presença dos membros da Academia Capixaba de Letras e Artes de Poetas Trovadores (ACLAPTCTC).
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